Pra Onde Olho?
O problema não é o pai sumido, mas como lido com o pai sumido dentro de mim.
O problema não é o sorvete, mas como lido com meus desejos em relação ao doce e minha saúde. O problema não é a rede social, mas o quanto empenho meu tempo alí e quais conteúdos consumo. O problema não é meu namorado tóxico e sim o porque ainda me entrego a tal situação cegamente. O problema não é o mundo lá fora, mas como eu, enquanto sujeito buscando ampliação de consciência, lido e reajo aos eventos que me acontecem.
Sim, se você veio de um lar bagunçado é claro que o que você eventualmente experimentou incomoda e abre feridas. Então, sim, este é um tema dolorido e reconhecemos a dificuldade dessa realidade.
Há uma explicação
Este problema do "pai sumido", por exemplo, pode ser explicado certamente a partir de muitas facetas. Podemos evocar argumentos psicológicos da vida dele e de seus ancestrais, podemos evocar argumentos de ordem social e até econômica. Podemos responsabilizá-lo, podemos julgá-lo por sua infantilidade e incompetência. Sim, certamente podemos concluir muitas coisas dessa história.
Mas, quero dizer algo a partir de minha experiência com mais de 8000 clientes atendidos: seu pai não te odeia, sua mãe não te odeia, não é pessoal, nem é falta de caráter - tudo isso é fruto do emaranhado deles com seus avós, bisavós e por ai vai.
Essa explicação, contudo, não é para justificar, ok? É uma tentativa de ampliar a nossa empatia e acalmar a nossa dor.
O que pode resolver no final das contas é um coração desmagoado que decide seguir adiante "apesar dos pesares". E a palavra ''decisão'' aqui é a mais importante. De-ci-são!
Ah, Isabela! Então deixo ele se safar?
Olha, você não precisa sublinhar os erros de alguém eternamente para mostrar que você foi ferido. Isso não me parece inteligente. Isso não resolve. Isso só faz a ferida sangrar pra vida toda. Quem quer algo assim pra si mesmo?
Por que estou falando isso? Porque na clínica o que a gente percebe é que a pessoa quer mostrar sua dor e quer garantir que alguém também esteja vendo os absurdos que sofreu.
Por vezes, o que se passa na mente da pessoa machucada são dúvidas e mais dúvidas: será que estou doido/ doida? Será que é frescura minha? Será que estou exagerando? Será que estou certo ou estou errado? Será que pensam como eu lá fora? Então ela busca amigos e terapeutas para confirmar que "aquilo tudo aconteceu mesmo."
Geralmente as pessoas machucadas, traídas, feridas querem validação e confirmação de outras pessoas. E, enquanto, narram suas tragédias olham atentamente para seu interlocutor em busca de aprovação, acolhimento, alívio e empatia "você acredita que aconteceu isso e isso e isso comigo? Absurdo num é?".
Uma curiosa percepção. Sabe porque as pessoas ''gostam'' de recontar suas histórias 500x? Para ter controle dessa vez. Ao recontar o acontecido a pessoa tem uma boa sensação. É comum eles disserem assim:
"... na hora não consegui pensar nisso, mas agora vejo assim, assim e assim. Se acontecer de novo eu...."
Isso tudo que estou falando acima não é coisa de gente fraca. A gente compreende que há etapas na jornada de quem vem de um lar com desafios importantes. Alguns atravessam essas etapas rapidinho, outros nem tanto. Vai depender do sujeito.
Acordo Fechado?
Mas, vou lhe dizer algo ainda mais importante. Isso que vou dizer é o que tento construir junto aos meus clientes quando estamos em terapia ou numa Constelação. Digo-lhes, assim:
... tenho uma novidade! Você pode reconhecer a sua ferida e a sua dor e pode, ao mesmo tempo, reconhecer que a pessoa que lhe feriu também tem lá suas feridas e suas dores. Negócio fechado? Nesse acordo todos tem suas histórias de dor reconhecidas e respeitadas. O que acha? Todo mundo é vítima, nesse caso. Como lhe parece? É justo?
Filosoficamente, podemos ampliar e admitir: sistemicamente falando ninguém é vítima e, ao mesmo tempo, todo mundo é vítima. Está todo mundo no mesmo barco.
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Sombras e Luz
Então, se a pessoa conseguir compreender que a vida é composta de histórias injustas, de pais e avós sumidos, de mães e avós tóxicas, de sorvetes deliciosamente doces que destroem nossa a saúde, de irmãs chatas, de professores indigestos, de namorados destrutivos, etc... Se a pessoa conseguir admitir que há sombra na vida, voalá!, grandes mudanças poderão advir disso.
Pensa comigo de coração aberto, se cada pessoa dessa que citei acima, cruzar nosso caminho - e vão cruzar! - elas poderão nos detonar ou nos elevar, certo?Dependerá de como a gente vai escolher fazer tal vivência frente a isso: reclamando ad aeternum ou aprendendo sobre si e suas fragilidades?
Enfim, quero caminhar para o final dessa reflexão e, mais uma vez me pego lembrando de Jean Paul Sartre. Não consigo escrever sobre esse tema sem citá-lo. Vamos lá:
... não importa o que fizeram com você, mas o que você faz com aquilo que fizeram com você.
Isso, convenhamos, muda o jogo da vida e nos convida à uma postura muito mais ativa e positiva. E, agora, aproveitando o embalo, vou largar uma frase meio polêmica de Hellinger, pois tenho certeza que se você leu o texto até aqui já consegue absorver com o coração mais calmo e curado a seguinte mensagem:
Bert diz: a postura de vitima é a mais refinada forma de vingança.
Espero, de verdade, que a gente nunca mais se mantenha na postura eterna de vítima só pra ficar acusando a vida toda aquele que nos feriu ou nos amou de forma bagunçada e confusa. Ou seja, a postura de vítima é um contra-ataque a nós mesmos. Faz mais mal pra gente do que pro outro.
Resumo
não foi pessoal, não foi falta de caráter, foi emaranhado
não gaste tempo apontando o erro dos outros
faça terapia, mas não use o espaço para ''ter razão'' e sim ''criar empatia''
a dor deles e a SUA dor podem ser, ambas, reconhecidas
não fique na postura de vítima a vida toda
você foi amado de um jeito troncho, mas foi amado :)
Desejo-nos, então, mais Paz!
SOBRE MIM
Estudei Psicanálise e Psicologia, sou Cientista Religiosa e me considero uma divulgadora dos princípios sistêmicos, da filosofia de Bert Hellinger e da Constelação Familiar. Especializei-me no Atendimento Individual Online há mais de 8 anos e utilizo, para tanto, de uma plataforma virtual onde realizo minhas sessões. Após vários treinamentos de Constelação Familiar junto à uma das principais escolas do país, o Idesv, criei meu próprio método de atendimento com bonecos online e já são cerca de 8000 clientes servidos através dessa metodologia. Também usufruo do ambiente digital das redes sociais para informar e educar minha audiência quanto ao universo das Constelações Familiares, atingindo mensalmente milhares de pessoas no Brasil e no mundo com a sua contribuição.
Tudo muda se a gente muda!